Rita Lee & Mutantes

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Rita Lee Build Up - 1970

Opção 2



Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida - 1972



(Polydor - 1972) - Direção de Produção: Arnaldo Baptista.

Dois anos após “Build up”, Rita Lee lança seu segundo álbum solo. A situação já é bem diferente. Se antes, Rita ainda era uma efetiva mutante; agora, a opção do grupo pelo rock progressivo (leia-se: influência do grupo Yes), praticamente jogava a artista para fora do Planeta dos Bauretz. Seu segundo disco é uma despedida e, ao mesmo tempo, o álbum mais Mutantes de todos os trabalhos do grupo. Nenhum dos seis álbuns da primeira fase do grupo – 1968-1972 – foi composto exclusivamente pelos integrantes, todos tiveram colaborações externas. O “Hoje é...”, não. Todas as faixas foram compostas pelo núcleo Arnaldo-Rita & Sérgio + Liminha: “Vamos tratar da saúde”; “Beija-me, amor”; “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”; “Teimosa”; “Frique comigo”; “Amor branco e preto”; “Tiroleite”; “Tapupukitipa”; “De novo aqui, meu bom José?” (resposta irônica a lírica “José (Joseph)”, do “Build up”); “Superfície do planeta”. A censura retalhou algumas letras que, de ácidas, se transformaram em líricas. Em “Beija-me, amor”, ouvimos: “Para que eu sinta o seu gosto / Mesclado com o gosto de amor / “Mastigado entre os dentes meus...”. Mas, na verdade, o texto original dizia: “Para que eu sinta a saliva / E o gosto de cuspe / Escorrendo entre os dentes meus...”, (cf.: Carlos Calado: “A Divina Comédia dos Mutantes”, pág.285).
O único furo (novidade) no bloqueio-Mutantes é a (estréia) participação da cantora, compositora e instrumentista Lucia Turnbull, nos vocais. Futura parceira de Rita no projeto pós-Mutantes Cilibrinas do Éden, em 1973. Dupla que serviria de base, no ano seguinte, para o grupo Tutti Frutti, com a entrada do guitarrista Luiz Sérgio e do contrabaixista Lee Marcucci. Álbum de estréia: “Atrás do porto tem uma cidade”.
Embora contemporâneo do LP “Mutantes e seus cometas no País dos Bauretz”, “Hoje é...” é um volta e/ou um símile do primeiro disco do grupo – “Os Mutantes –, de 1968. Uma audição (e uma visão) atenta de ambos mostra a estranha e estrondosa semelhança. A começar pelas capas: o álbum de 1968 traz, na contracapa, um pequeno desenho do grupo feito por Rita; no álbum solo, a capa traz um auto-retrato de Rita, a simplicidade gráfica esconde para revelar um dos elementos básicos da estética do grupo: o humor. O que, infelizmente, a opção progressiva da época encobriu ou descartou.
“Hoje é...” se traduz em uma catarse final solo/coletiva rumo a esse elemento. Se de um lado, no “Bauretz”, o humor – muito presente – está submerso; no álbum solo, ele está explícito, sobre uma textura sonora que, às vezes, soa também progressiva.
O disco tem dois capítulos distintos:
(1) biográfico, na trilha de “Vamos tratar da saúde” e “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”.
(2) Humorístico, em “Amor em branco e preto” (um hino não oficial para o Corinthians), “Tapupukitipa” e “Tiroleite”. Talvez a única tentativa vitoriosa de se fazer bom-humor com os valores da geração hippie. Essa canção, embora não tenha se transformado em sucesso rádio-televisivo, é um dos grandes “hits” das rodinhas de violão. Em algumas, divide o pódio com “Andança”, “No woman, no cry (Não chores mais)”, “Maluco beleza”, “Sobradinho” e coisas e tais.
Se “Hoje é...” é uma volta ao início do grupo, é, também, um disco-projeto do que seria a carreira-solo de Rita. Isto é, um amálgama da fórmula antropofágica de Oswald de Andrade: do AMOR / HUMOR.
Depois de 1972, nem Rita nem os Mutantes seriam os mesmos. Cada um seguiu seu caminho. Todos, porém, dentro de alguma trilha que já estava demarcada nas obras primeiras do grupo.
A partir dessa compreensão, podemos entender que, na verdade, a primeira fase do grupo não possui apenas cinco álbuns, mas oito – os cinco do grupo mais o tardio “Technicolor”, gravado em 1970 e lançado em 1999, os dois solos de Rita.
Fechou a discografia? Para mim, não. Na verdade, essa fase tem nove discos. Ainda incluo o primeiro álbum solo de Arnaldo – “Lóki?”, de 1974.
Como? É só reler este texto. Tudo que foi falado para os dois álbuns solos de Rita serve, com maior ou menor grau, para o “Lóki?”.
Isso, se não computarmos: o disco-manifesto “Tropicália – ou panis et circensis”; o LP “A banda tropicalista de Rogério Duprat”, de 1968; e o compacto duplo de Caetano Veloso com as faixas: “A voz do morto”; “Baby”; “Saudosismo” e Marcianita”, gravado ao vivo, todos de 1968.

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